sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

2014: cuidado com o fetiche, por Bernardo Oliveira





















Situação já centenária que se aprofunda a cada renovação tecnológica: o volume da produção extrapola nossa capacidade de armazenar, fruir e compreender o conjunto da expressão artística da época. Mesmo a simples relação com a música em geral passa por uma mutação cuja característica central é a de se modificar constante e ininterruptamente. Uma mutação sem futuro nem destino, mutação no e do presente, que tanto pode abarcar uma curiosidade contínua como sedimentar gostos e opções.

O frenético, o instável, o redundante e o desafiador dão forma a uma profusão de fluxos e tonalidades que afetam os diversos contextos de produção sonora (inclusive manifestações híbridas como as gravações de campo, a arte sonora, p ex.). A invenção se manifesta por uma qualidade perspectiva, uma assinatura, uma mirada singular, o esforço individual/coletivo para produzir  algo diferente, não somente em relação ao panorama — como se esperaria de uma "vanguarda" — mas em relação a si mesmo, ao seu próprio trabalho.

Muitos foram os discos escutados e até mesmo amados em 2014, inclusive alguns que não estão na lista abaixo. Isto porque optei mais uma vez por combinar dois critérios de forma mais ou menos equilibrada: reunindo o conjunto das audições, a cada dia mais incompletas, captar os artistas que se diferenciaram tanto em relação ao seu próprio trabalho, como também em relação ao contexto no qual estão inseridos. Toda lista é subjetiva, produto de experiências pessoais e diz mais do autor do que dos artistas escolhidos.    

Dito isto, selecionei aqueles artistas que foram capazes de surpreender com uma expressão de seu trabalho que eu não conhecia (Juçara Marçal, Cadu Tenório, Yersiniose); reformularam e levaram adiante sua forma de fazer música (Racionais, Kasai Allstars, Untold); desafiaram pela complexidade do conceito (Tyshawn Sorey, Hecker, Schmickler & Rohrhuber, Pisaro); promoveram uma guinada estratégica (Sun Araw, Tricoli, Jaworzyn, Sei Miguel); ou, ainda,  reafirmaram e aprofundaram suas particularidades (Prostitutes, Aphex Twin, D/P/I). Incluí também a coletânea de footwork em homenagem a DJ Rashad editada pela Hyperdub e Metal Shake, quebra-quebra promovido por Peter Brötzmann, Jason Adasiewicz, John Edwards e Steve Noble, preenchido por escalas turcas e dinâmicas imprevistas.  

2014 em 20 discos, 60 faixas, cassetes, mixtapes, relançamentos e alguns shows. Não há uma ordem, mas os sete, oito primeiros discos merecem destaque. Entre as faixas, um fato curiosamente acidental: entre as quinze primeiras, a maioria das indicadas são nacionais. Por motivos óbvios, me guardei de indicar discos e faixas que produzi esse ano, a sua maioria ligados ao Quintavant (evento que ocorre na Audio Rebel, Botafogo/RJ) e ao selo QTV. Alguns shows foram inevitáveis, como o do Coletivo Abaetetuba e o concerto que derivou Bota Fogo, parceria de Paal Nillsen-Love com Eduardo Manso, Arthur Lacerda e Felipe Zenícola lançado pelo QTV (mas gostaria de deixar registrado que admiro muito o primeiro disco do Baby Hilter, Rainha, primeiro disco do DEDO e as canções violíricas de Negro Leo). (B.O.)

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DAS GALÁXIAS

Juçara Marçal – Encarnado (s/g)




















Encarnado é um mapa que descreve rotas aéreas, congruentes e paralelas ao sacrossanto corpo cancional brasileiro. Uma ode à capacidade de resistir aos trancos e barrancos, uma ode ao corpo que perece, ao corpo que existe. Uma cantora que domina a voz, o som, o conceito. Uma consciência para além de tudo o que conhecemos hoje através da palavra "cantora". Uma cantora que mistura sua voz aos ruídos, que produz ruídos, que expõe seu canto em contraste com um trabalho de guitarra dos mais inovadores de que se tem notícia. Não é à toa que Encarnado reúne grandes outsiders da canção das últimas cinco décadas: Tom Zé (a anti-tropicália), Itamar Assumpção (a anti-lira), Siba (o anti-manguebit), o sambista Douglas Germano e toda uma geração da canção paulistana recente: Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Romulo Fróes, Alice Coutinho, Régis Damasceno, Gui Amabis e Thiago França. Um arrasa-quarteirão.


Ouça Encarnado.


Kasai Allstars – Beware the Fetish (Crammed)


O termo "congotronics" é puramente marketeiro, pois as kalimbas são electrificadas. O fetiche que conecta o universo minimalista da música africana com as pistas de dança da velha Europa estão na base do termo. Ele também não dá conta das muitas vertentes sonoras caras à etnia bazombo que se misturam nas doze faixas deste disco. E, no entanto, o Kasai Allstars adverte: "beware the fetish". Contradições à parte, este é um dos discos mais poderosos não só deste ano, como desta década que já se encaminha para sua metade. As variações e nuances que pudemos observar, por exemplo, no segundo disco do Konono (Assume Crash Position), se multiplicam em Beware The Fetish, as cores da percussão, da guitarra, das vozes absolutamente comoventes e vigorosas, os andamentos variados. Outro arrasa-quarteirão.





D/P/I – 08.DD.15/MN.ROY (Leaving Records)




















Formado por Cameron Stallones (Sun Araw), M. Geddes Gengras, Aaron Coyes (do Peaking Lights), MatthewDavid, Butchy Fuego e Alexander Gray, mais conhecido como DJ Purple Image ou simplesmente D/P/I formam oselo coletivo Duppy Gun de Los Angeles. A rapaziada arregaçou as mangas e produziu alguns dos grandes momentos musicais de 2014. A excelente coletânea de faixas gravadas na Jamaica pelo selo Duppy Gun (Multiply: Duppy Guns Productions Vol. I), a mixtape do Genesis Hull (Who Feels It, Knows That) e um dos discos mais estranhos do Sun Araw (Belomancie). Mas o destaque ficou mesmo para dois dos três lançamentos de Gray e seu D/P/I: 08.DD.15 e MN.ROY. Dois trabalhos de samba doido, ritmos inesperados, percussões digitais que descrevem rotas irregulares, tensionamento constante e, sobretudo, irreverência. Algo que muitos imaginam ouvir em Flying Lotus, mas é apenas o despontar de um interesse na multiplicação da percepção rítmica. D/P/I foi mais longe.



D/P/I "SWIN.G" / 08.DD.15 ( Leaving Records ) from /// / on Vimeo.


Untold – Black Light Spiral (Hemlock Recordings)




















"O disco se inicia com ruídos variados distribuídos sobre uma marcação em volume baixo. A textura é interrompida pela eclosão de sirenes de todos os tipos: ambulâncias, alarmes, carros de polícia. Os ruídos não se resumem aos bleeps comuns nesta seara, mas possuem algo de ameaçador, carregados de um aspecto documental, como se fossem extraídos das ruas. O grave se torna proeminente enquanto o clima de desorientação toma conta do ambiente. Estamos situados no âmago do descontrole urbano inerente ao imaginário da eletrônica londrina. Porém, o que geralmente se apresenta como uma vinheta de introdução, em “5 Wheels” dura quase cinco minutos. Não se trata somente de uma indicação de contexto, tal como nas vinhetas desse tipo, mas a tentativa de envolver o ouvinte em uma atmosfera rarefeita e impessoal…"

Ouça "Drop it on the one" e "5 Wheels".


Marcus Schmickler & Julian Rohrhuber – Politiken der Frequenz (Editions Mego, Tochnit Aleph)




















Dois discos de 2014 trabalharam a voz de uma forma maquínica, estrategicamente "desumanizada" e essencialmente crítica: Hecker com Articulação (v. abaixo) e a parceria Schmickler/Rohrhuber com Politiken der Frequenz. Segundo os autores, o trabalho parte da seguinte premissa: “Music and Economics share a fundamental object: number”. Uma teoria crítica, cuidadosamente descrita na capa do disco, sobre a volatilidade dos números, as estratégias aceleração do capital, uma metafísica do lucro, circundam esta obra complexa e misteriosa. Como em muitos trabalhos desta natureza, o título não deve ser desprezado. Ele indica que uma tal política irá operar não em relação ao controle das frequências, mas à valorização de noções como densidade, precisão e situações extremas. O que fascina em Politiken der Frequenz é a forma como a dupla encaminha o problema, através de dinâmicas de relaxamento e tensão, uma certa qualidade dramática que se vale de uma suspensão temporal: enredados em uma trama numérica infinita, entre contas e registros que nos controlam, planificamos nossas vidas sob as ilusão de que andamos para frente.



Tyshawn Sorey – Alloy (Pi Recordings)


















Como escrevi recentemente na comunidade do Matéria no Facebook: "O baterista de jazz Tyshawn Sorey, compositor na linhagem "cósmica" de Webern e Morton Feldman, lançou este ano seu quarto disco, "Alloy". Em pouco mais de uma hora de disco, Sorey inverteu uma premissa histórica relativa ao intercâmbos entre o jazz e a composição moderna: enquanto Ellington e Miles permitiram que o campo melódico/timbrístico dos compositores modernos e contemporâneos penetrassem em suas composições deslizando sobre o improviso, Sorey parte de um composição flutuante, completamente independente da harmonia, para, aos poucos, criar ambientes onde impera o improviso, a desmusicalização das notas e a valorização do som."


Cadu Tenório – Cassettes (Sinewave)




















Cassettes lança um paradoxo comum aos dias de hoje, mas de modo singular: pode ser escutado em CD, no Bandcamp ou arquivos de MP3, sua resolução é essencialmente digital, embora o material bruto tenha sido extraído de uma coleção de cassetes acumulada por quatro anos. Misturada a teclados, violinos, vozes, objetos e ambiências, geram loops irregulares compostos por sonoridades híbridas que oscilam entre o estranhamento e a melancolia, mas também podem ser interpretado como uma experiência de construção conceitual do ritmo. Elaborado a partir de estratégias de adição e subtração e lenta modificação das texturas, Cassettes traz um aspecto diferente da música de um dos mais prolíficos produtores cariocas.  

Baixe o disco aqui.


Prostitutes – Petit Cochon (Spectrum Spools/Editions Mego)





















Diretamente de Cleveland, Ohio, James Donadio chega ao quarto disco do Prostitutes aparando arestas e ressaltando aquilo que seu trabalho tem de mais interessante: a construção sugestiva do ritmo. As estruturas econômicas, focadas sobre texturas repetitivas e timbres lo-fi, sobressaem devido a escassez de elementos harmônicos e melódicos. Sonoridades comuns no universo da música eletrônica de pista (bumbo 4/4, cowbells) se misturam a uma chiadeira em diálogo muito particular com o techno germânico. Um disco soturno, mas repleto de belas batucadas.





Michael Pisaro – Continuum Unbound (Gravity Wave)


























Li recentemente em um site uma definição deste álbum que eu não poderia fazer melhor: "Alguns entusiastas das gravações de campo [field recordings] preferem seus trabalhos sem enfeites; outros preferem incluir alguns ornamentos de forma sutil; e alguns preferem mexer pesadamente no material gravado. O novo projeto de Michael Pisaro oferece as três opções." No primeiro CD, "Kingsnake Grey", temos a paisagem sonora noturna do Congaree National Park, captada por Pisaro e Greg Stuart. "Congaree Nomads" sintetiza em uma hora e doze minutos, 24h seguidas de gravação no mesmo local, adicionado por delicados ornamentos e intervenções de marimba, xilofone e outros instrumentos. Em "Anabasis", a terceira modalidade entra em jogo com a contribuição de Patrick Farmer, Joe Panzner e Toshiya Tsunoda. Trabalho fascinante acompanhado de um projeto gráfico e quatro livros que tematizam toda a experiência, de autoria do artista plástico Yuko Zama.


Racionais MCs –  Cores e Valores (s/g)





















Em seus vinte e cinco anos de carreira, os Racionais MCs dobraram/derrubaram críticos e adversários um a um (eu fui um deles!). Ao mesmo tempo, criaram tantos outros. Não tem como ser diferente, eles anunciam uma guerra, é impossível pensa-los sem a dimensão da nossa grande guerra social, das nossas contradições e conflitos. Se você quer conciliação e uma visão harmônica de país, desista dos Racionais. Mas e a arte? Após "Mulher Elétrica" e "Mil faces de um homem leal", os Racionais mostram que não estão somente em busca de espalhar sua mensagem, mas sobretudo renovar a potência de sua arte. Diálogos com o trap e as vertentes mais recentes do rap, produção econômica e sombria e uma abertura de disco que pode ser considerada como uma das mais impressionantes dos últimos tempos. Alguns acharam que eram vinhetas, outros que era um teaser. Mas o que se revelou foi uma sequência de dez pequenas composições que tomam dezesseis minutos do discos. Os MCs continuam grandes poetas, recusando o papel de arautos de uma nova era, recusando qualquer messianismo — embora seja difícil pensar o Brasil dos últimos 30 anos sem a presença do grupo. Discaço.

Hecker – Articulação (Editions Mego)




















Não topo com o conservadorismo travestido de postura agressiva anunciado por Nick Land através de seu conceito "dark enlightnment"; nem com o cinismo poseur advogado pelos "aceleracionistas"; muito menos com todas essa conversa mole de "realismo especulativo", recauchutagem acadêmica de temas que mais indicam o beco sem saída da filosofia continental do que uma problematização potente do presente. Ainda assim, a música de Hecker soa como um dispositivo crítico relacionado à produção do som e do sentido, correndo por fora do mal estar generalizado que parece tomar conta do pedaço. Como em Chimerization (2012), Articulação é produto da colaboração de Hecker com o filósofo e escritor iraniano Reza Negarestani, associado ao "realismo especulativo", que desenvolveu o conceito de "quimera" — "reunião científica ou mitológica de partes díspares". Deixemos de lado o quanto for possível esta situação teórica para acessar o que Articulação tem de melhor. Em "Hinge*", a artista Joan La Barbara recita dois textos de Negarestani em paralelos, cada um representando os domínios da natureza (canal esquerdo) e da cultura (canal direito). Articulando esses dois grandes "obeliscos", Hecker se propõe a produzir uma síntese de elementos sonoros e textuais, que retornará na terceira faixa ("Hinge**"), completamente alterado por efeitos. No meio das duas articulações, Hecker posiciona "Modulator (…meaningless, affectless, out of nothing…)", uma faixa na qual a "síntese" não passa pela palavra ou pelo texto, apresentando-se de forma mais obscura, mas não menos fascinante.

Ouça "Hinge*".


Sun Araw – Belomancie (Sun Ark Records)





















A viagem para a Jamaica (para a gravação do disco com The Congos) e a formação do selo Duppy Gun reforçaram a visão de que Cameron Stallones buscava fincar uma bandeira no terreno do dub psicodélico: inspiração ambient, andamentos lentos e esfumaçados, bases repetitivas, gravão bem marcado, guitarras saturadas de efeitos, vocais com delay e percussões aleatórias. Mas Belomancie mostra que Stallones tem mais lenha para queimar, apostando em direções, se não divergentes, no mínimo destoantes da densidade inclusiva dos discos do Sun Araw. Neste álbum, composto, tocado e gravado somente pelo próprio artista, o clima psicodélico é substituído pelo delírio onírico: pontos isolados, silêncios por todo o disco, irregularidade. Um esqueleto coberto de penduricalhos aleatórios e um compositor/produtor capaz de fazê-lo andar. 

Ouça Belomancie.


Millie & Andrea – Drop The Vowels (Modern Love)




















Millie é Miles Whittaker (Demdike Stare) e Andrea é Andy Stott. Juntos tocam desde 2008 a dupla Millie & Andrea, sempre atentando para a alteração de padrões estabelecidos do techno e do UK garage. Drop the Vowels, primeiro disco da dupla, desenvolve uma exploração inteligente de timbres e sonoridades aplicadas a uma grade rítmica mais próxima do drum and bass, dos breaks e big beats. Em "GIFF RIFF", escutamos primeiramente um sampler de música árabe (ou egípcia), seguindo-se por sons de máquinas e kalimbas digitais. A sequência varia entre o drum and bass mais direto ("Corrosive", "Drop the Vowels"), variações do UK Garage ("Stay Ugly") e momentos mais abstratos ("Back Down","Quay"). Situado propositalmente entre tradição e renovação, Drop The Vowels trabalha a partir de uma síntese particular de aspectos da música eletrônica britânica dos anos 90.   
Aphex Twin – Syro (Warp)




















A volta de Richard D. James ao cenário da música atual foi marcado primeiramente pela aparição de sinais misteriosos, seguido de um estardalhaço entediante: a reedição de Caustic Window LP, stencils por toda parte, um zepelim cruzando os céus de Londres, vazamentos fake. A ação orquestrada contrastou com a impressão ambígua de que o trabalho não teria ido tão longe quanto o esperado. Mas talvez esta seja a maior força de Syro: o modo como James se mostra senhor do universo diversificado que ele próprio criou nos anos 90. Modulações de seus trabalhos ambient, batidas frenéticas, vozes fantasmagóricas e um otimismo bizarro percorrem as doze faixas de Syro.  
Yersiniose – 1911 (Seminal Records)




















Um dos grandes lançamentos da Seminal Records, selo dirigido pelo chapa J-p Caron, 1911 foi produzido pelo paulistano Mario Brandalise. Quatro faixas que sintetizam de forma consistente os timbres pesados associados ao power electronics e a espacialização de nuvens cacofônicas, características de algumas manifestações da música de ruídos. Uma construção conceitual arrojada, mas ao mesmo tempo extremamente fluida e cativante.

[Ao lado de Cassettes de Cadu Tenório e outros lançamentos como Rainha, Heavy Metal Maniac, o primeiro disco solo de J-p Caron (Sinewave), os trabalhos do God Pussy, 1911 indica temos hoje na seara das abstrações sonoras e música extrema, uma produção consistente e diferenciada do restante do mundo. Delírio? Pelo jeito, os norte-americanos já sacaram. Convém ficar de olho].




Valerio Tricoli – Miseri Lares (PAN)




















A julgar por uma apresentação que assisti no ano passado, imaginei que esse segundo álbum de Valerio Tricoli pudesse trazer um improvisador ainda mais radical do que aquele que gravou Forma II ao lado de Thomas Ankersmit (também editado pelo selo PAN). Gravado entre 2011 e 2013, Miseri Lares traz um artista mais preocupado em elaborar um panorama complexo, descrevendo rotas acidentadas e ricas em materiais sonoros. Trabalhando de forma indistinta com procedimentos variados, desde field recordings até manipulação de fita, Tricoli produz modulações incessantes na forma da composição, valorizando as dinâmicas de volume e os detalhes de timbres.

Ouça "Miseri Lares".


Peter Brötzmann, Jason Adasiewicz, John Edwards, Steve Noble – Mental Shake (Otoroku)




















Um dos discos de improviso mais fortes desse ano conta com Peter Brötzmann empunhando o Tarogato, uma espécie de flauta turca, Noble e Edwards comandando as dinâmicas de seus respectivos instrumentos e, ao fundo, Jason Adasiewicz construindo um tapete de harmonias delicadas, fugidias.




Stefan Jaworzyn – Drained of Connotation (Blackest Ever Black)





















Um disco brutalmente repetitivo, desprovido de sentimentalismos melódicos. A revolta das máquinas através da manipulação de timbres diáfanos e estruturas rudimentares. Os títulos são amistosos: "Psychoanalytically Speaking, You're Fucked", "Sinister Eroticism In Oslo", "Pillars Of Excrement". Drained of  Connotation é uma coleção de faixas produzidas em 1982, um dos três discos lançados esse ano que quebram um hiato de 17 anos e inauguram a carreira solo do veterano Stefan Jaworzyn, ex-membro do Whitehouse e do Skullflower.

Ouça "Sinister Eroticism in Oslo".


Sei Miguel – Salvation Modes (Clean Feed)




















Sei Miguel é um trumpetista francês que já morou no Brasil e desde a década de 80 reside em Portugal. Na ativa desde a década de 80, sua música sempre esteve de alguma forma vinculada ao improviso e às vertentes experimentais do jazz contemporâneo. Em Salvation Modes, Miguel dá início à divulgação de composições que vem armazenando na gaveta ao longo de 30 anos. Uma sequência de paisagens e panoramas climáticos, trilha sonora para filme noir entrecortada pelas intervenções dos treze músicos — com destaque para o trombone de Fala Mariam, a guitarra de Pedro Gomes e as intervenções eletrônicas de Rafael Toral. Sugestão: ouça no fone.  


Vladislav Delay – Visa (Ripatti)


Pudemos comprovar a versatilidade de Sasu Ripatti no Festival Novas Frequências deste ano. Ele domina tanto a pista de dança quanto o palco, mostrando que a importância do seu trabalho hoje não se restringe somente à música eletrônica, mas a convergência indiscriminada de fontes sonoras. Desenvolvendo diversos projetos ao mesmo tempo, Ripatti demonstra um espírito aguçado em busca de sons e estruturas sonoras. Sob a alcunha Vladislav Delay, faz uma interpretação absolutamente particular da ambient music em Visa, disco que nasceu de uma recusa de visto para entrar nos Estados Unidos.




Vários artistas – Next Life (Hyperdub)




















DJ Rashad celebrado por seus parceiros e amigos: Spinn & Taso, Taye, Traxman, RP Boo, Manny, entre outros. Uma homenagem à altura deste que foi um dos grandes inovadores de um dos mais inovadores movimentos da bass music mundial.



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FAIXAS

MC Bin Laden e todo o crew que o acompanha. Ramificações criativas do funkcarioca se espraiando pelo território, modulando. Gente mexendo com estrutura, conceito, não é mimetismo vazio. Algumas produções dessa turma não tem batida, só o gravão sustentando. Em referência à experiência do popular "lóló", "Lança de Coco" tem alguns segundos de uma frequência agudíssima, impensável para o funk de alguns anos atrás. É preciso liberdade para mexer profundamente com um gênero tão popular. A burrice roqueira característica da melomania média brazuca nunca foi capaz de produzir a partir desse espírito renovador e irreverente.



Corpo-máquina, corpo-som:



Faixas indispensáveis:

"Devora o Lobo" – Alessandra Leão
"Chorus" – Holly Herndon


"Grey Over Blue" – Actress (lançada em 2013, mas incluída em um disco de 2014)



Outras faixas indispensáveis:

"Electric Fish" – Cadu Tenório + Marcio Bulk (com César Lacerda)
"Drop It On The One" – Untold
"Bololo Haha" – MC Bin Laden
"Picada Fatal" – MC Livinho
"Make Her Say (Beat It Up)" – Estelle
"200 Press" – James Blake
"Velho Amarelo" – Juçara Marçal
"Last Mistress" – Body/Head (Jake Meginsky remix)
"Faith OG X" – Copeland
"Irmandade de São Benedito" – Projeto Mujique



"Fortress (The Hague, 2005)" – A Made Up Sound
"Momentum I (para Giacinto Scelsi II)" – J-P Caron
"Emtee" – S Olbricht
"No Surrender" – Andy Stott
"Ruckus In B Minor" – Wu Tang Clan
"Behind the Loops" – Ena


"Boxoff" – Machinedrum
"Eat My Fuck" – I.B.M.
"Primate 2" – Kevin Drumm
"Exu" – Juçara Marçal
"Oneiric Contour" – Lee Gamble 
"False Entities" – Sendai 
"Colony Collapse" (with Nova) – Filastine
"Anger Alert" – Kevin Drumm & Jason Lescalleet
"Past Majesty" – Demdike Stare
"Nan Nife" – James Ruskin
"Forerunner Foray" – Shabazz Palaces


"Two Weeks" – FKA twigs
"White Flower with Silvery Eye" – Shackleton
"Gland Collector" – Stefan Jaworzyn
"Retrato na Praça da Sé" – Tom Zé
"Hidden Lake Club" – Fischerle
"Chaghaybou" – Tinariwen
"Léthé" – Kaumwald
"Everything" (Villalobos & Loderbauer: Vilod high blood pressure mix) – Neneh Cherry
"Somethin ‘Bout the Things You Do" – DJ Rashad ft. Gant-man
"Scarface" – Freddie Gibbs & Madlib
"Jhones" – DEDO
"Ndikagona (When I Sleep)" – Malawi Mouse Boys
"The Only Scarf" – Prefuse73 & Machinedrum
"Lurch" – Perc
"Periscope Blues" – Ron Morelli
"Static Things" – Fennesz
"Reddin Off" –Afrikan Sciences
"The Holy Cave" – Clap! Clap!





RELANÇAMENTOS




Aby Ngana Diop – Liital
Mestre Cupijó e Banda – Siriá
Hailu Mergia and The Walias – Tche Belew
Morton Subotnick – Silver Apples of the Moon
Caustic Window LP
Half Japanese  – Volume 1: 1981-1985
Nick Drake – A day gone by
Verckys et l'Orchestre Vévé – Congolese Funk, Afrobeat and Psychedelic Rumba 1969-1978


COLETÂNEAS



Francis Bebey – Psychedelic Sanza 1982-1984
Les Amabassadeur du Motel Bamako
Music from the Mountain Provinces
Anastenaria – Music Of The Fire Walkers
Hyperdub 10.1,10.2, 10.4
Let No One Judge You — Early Recordings From Iran, 1906-1933
Belgrade Is The World
David Toop – Mondo Black Chamber


INÉDITOS ANTIGOS



John Coltrane – Offering: Live At Tempel University
Αναστενάρια – Music Of The Fire Walkers
Miles Davis – Miles at the Fillmore - Miles Davis 1970: The Bootleg Series, Vol. 3'
Gal Costa e Gilberto Gil – Live in London 71' 
Mars – Rehearsal Tapes and Alt-Takes NYC 1976-1978
Angus MacLise – New York Electronic, 1965

CASSETES



HATE – Bad History
Vatican Shadow – Death Is Unity With God

MIXTAPE



SHOWS


DJ Rashad. Foto: Eduardo Magalhães. 






















12/04 – DJ Rashad – Wobble (Usina, RJ)
25/04 – Paal Nilssen-Love + Felipe Zenícola + Eduardo Manso + Arthur Lacerda  – Quintavant (Audio Rebel, RJ)
22/05 – Untold – Wobble (Fosfobox, RJ)
14/06 – Juçara Marçal – Quintavant (Audio Rebel, RJ)
26/07 – Metá Metá, Passo Torto, Juçara Marçal, Rodrigo Campos, Romulo Fróes, Sambanzo (Ibirapuera, SP)
30/08 – Bassekou Kouyaté – MIMO (Ouro Preto, MG)
19/09 – Arto Lindsay + Paal Nilssen-Love + Kiko Dinucci + Thiago França – Quintavant (Audio Rebel, RJ)
01/11 – Coletivo Abaetetuba – Quintavant (Audio Rebel, RJ)
04/12 – Aki Onda – Novas Frequências (Oi Futuro, RJ)
09/12 – Mark Fell + Keith Fullerton Whitman – Novas Frequências (Audio Rebel, RJ)
12/12 – Bill Orcutt – Novas Frequências (Oi Futuro, RJ)

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